Avatar (2009)

Cobrado pela necessidade de ser culturalmente relevante, o sucesso de Avatar sempre esteve ligado a sua capacidade de imersão, seja técnica, seja emocional

James Cameron marcou a história da 7ª arte com o seu Titanic (1997), um filme de sucesso estrondoso que acabou se tornando o maior fenômeno do cinema moderno. Provando que um raio pode sim cair duas vezes no mesmo lugar, coube à Cameron destronar Titanic como o maior sucesso de bilheteria da história. Mesmo se formos chatos e aplicarmos o filtro do reajuste à inflação, a vitória ainda pertence ao povo de Pandora, ficando atrás apenas do clássico …E o Vento Levou (1939). Tanto sucesso atrai críticas, afinal, Avatar mereceu tudo isso? Mérito ou não, a verdade é que ele conquistou esse êxito, parte pelo avanço tecnológico, mas parte também por ter uma história simples, cativante e acima de tudo bem contada.

Pôster Avatar
© 2009 Twentieth Century Fox Film Corporation

Em um futuro onde os recursos da Terra estão cada vez mais escassos, os olhos do mundo estão voltados à Pandora, um planeta distante que está sendo explorado para extrair um precioso composto. A questão é que o local é habitado por tribos nativas do povo Na’vi e para ganhar confiança deles é criado o programa Avatar, onde a mente dos seres humanos é transferida para corpos artificiais. É nessa missão de se aproximar do povo que o fuzileiro Jake Sully (Sam Worthington) irá se apaixonar pelo local, pelo povo e por uma princesa, tal como um conto clássico.

Apesar de conter suas mudanças puxadas para a ficção científica, como o cenário alienígena e o transporte da mente por corpos, a sinopse de Avatar é bastante familiar, sendo a mesma base de obras como Pocahontas (1995), Dança com Lobos (1990), O Último Samurai (2003) e John Carter (2012). Esse é inclusive o maior ponto de crítica que o filme recebe, sendo uma questão genuína, mas que parece injusta se olharmos para a baixíssima variedade de novas histórias no que envolve o cinema blockbuster nos últimos anos. A obra de James Cameron é pouco desafiadora, mas é sim um roteiro bem estruturado, onde mesmo que seja possível prever os passos do seu unidimensional protagonista, é fácil entender o porquê dele ter se apaixonado pelo local em que está.

A demora de Avatar, com seus quase 15 anos de produção, se deu por causa do empenho do diretor em entregar um filme que pudesse contar visualmente quais eram suas intenções para o projeto, sendo isso o que fez dele se tornar o maior sucesso do cinema moderno. Rever o filme hoje é um atestado do seu acerto nesse sentido, onde os efeitos visuais continuam infinitamente superiores a tudo o que vemos nos filmes da Marvel ou qualquer outra grande produção, ainda mais em uma época onde esse tipo de produção vem sofrendo com resultados inferiores, graças à alta demanda de profissionais.

Fora todo o deslumbre com a criação da floresta bioluminescente de Pandora, onde nem todo o avanço da sociedade nos preparou para evitar ficarmos hipnotizados com luzes brilhando, o principal destaque tecnológico de Avatar é a captura de movimentos. Tecnologia essa que já havia se destacado através de personagens como o Gollum de O Senhor dos Anéis e o King Kong de 2005, filmes de Peter Jackson que destacaram o nome da Weta como uma das grandes empresas de efeitos visuais. que posteriormente também seria celebrada pela recente trilogia Planeta dos Macacos.

Em Avatar foi dado o passo seguinte para essa que seria a grande arma do cinema blockbuster moderno, assim como sua maior fraqueza ao se apoiar tanto na técnica. O que o filme de James Cameron mostra também é a necessidade de tempo para que esses personagens sejam bem modelados, permitindo assim com que a Neytiri de Zoe Saldana seja um dos grandes exemplos positivos da captura de emoções para um personagem em CGI. Atriz essa que merecia um maior reconhecimento ao ser a grande força do filme, passando toda a emoção que falta ao nosso protagonista, com Sam Worthington sendo uma aposta errada de Cameron, assim como aconteceu com Spielberg em Shia LaBeouf.

Se hoje temos Thanos sendo reconhecido como um ótimo personagem em CGI é muito graças ao avanço trazido por Avatar, mostrando que esse é sim um filme de impacto para a cultura popular, inclusive com legados ruins. A presença do 3D foi o grande chamativo do filme, o problema é que Hollywood pouco soube o que fazer com a tecnologia, resultando em produções escuras, com o uso dos óculos servindo apenas para aumentar o preço dos ingressos.

Grandes diretores souberam como usar o 3D, como Scorsese em A Invenção de Hugo Cabret (2011), Ang Lee em As Aventuras de Pi (2012) e até mesmo Michael Bay em Transformers: O Lado Oculto da Lua (2011), mas no geral se tornou apenas um artifício incômodo, abandonado até mesmo pelas marcas de televisores, com os aparelhos sumindo das prateleiras hoje. Ao menos a passagem de Avatar nos cinemas fez com que as salas tivessem que se renovar, adotando projetores digitais para garantir a imersão prometida.

O fato do 3D de Avatar ser lembrado até hoje é por causa do mergulho que a tecnologia trazia ao público, fazendo não com que os elementos saíssem da tela, mas que o público se sentisse imerso em Pandora. Além do impressionante trabalho de criação de universo, com suas diferentes faunas e criaturas, Avatar pode não ter a mais memorável das histórias, mas é um filme que funciona até mesmo em telas pequenas graças a sua capacidade de chamar a atenção do espectador pelo visual, mas no fim prendê-lo diante da construção de boas sequências de ação, com destaque para o voo nos banshees, cena que se tornou referência para o parque temático do filme, além da grandiosa batalha que fecha a aventura.

Dando voz a tudo isso temos a trilha de James Horner, que não repete o impacto das outras parcerias com Cameron em Titanic e Aliens (1986), principalmente por trazer temas de ações muitos similares. Essa sensação de eterna semelhança é um problema do filme como um todo, mas que não deixa de ter uma trilha louvável, principalmente ao dar vida aos confrontos do povo Na’vi com os militares, destacando o foco ambiental do projeto, sem medo de colocar o governo americano como o vilão da história, agora com o rosto das grandes corporações. Uma prática comum, mas que vem se tornando realidade sobre quem de fato governa o mundo, principalmente um em estado de degradação como é falado sobre a Terra. Algo melhor pincelado na versão estendida do filme.

Mesmo simples, essa abordagem política é também uma força de Avatar que entre diversos documentários lançados nos últimos é facilmente um dos projetos que melhor levaram ao público a importância de se preservar o meio ambiente, usando dos povos originários como um olhar do passado que era o único a realmente olhar para um futuro sustentável. E foi com mensagens simples, mas diretas, que Avatar tem tamanho êxito em sua passagem nos cinemas, alcançando o posto de maior bilheteria da história do cinema pela forma em que sua aventura atemporal ainda consegue se conectar ao público, com o seu destaque visual sendo uma ferramenta de auxílio para tamanho destaque, mas não sendo a sua única força.

A cena em que Neytiri segura o corpo humano de Jake no clímax, olhando para o interior do homem que ama, recitando o lema do povo e do filme, “Eu Vejo Você”, é uma forte sequência que mostra a força não só da personagem, mas também do projeto, que sim, vai além do 3D e efeitos impressionantes. Falta originalidade, mas Cameron se encarrega de entregar a alma que até hoje faz falta tanto às criaturas em CGI como aos blockbusters modernos em que eles aparecem.

Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron
Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Stephen Lang, Michelle Rodriguez e Sigourney Weaver
Trilha Sonora: James Horner
Fotografia: Mauro Fiore
Montagem: Stephen Rivkin, John Refoua e James Cameron
Produzido por: James Cameron e Jon Landau

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