Besouro Azul (2023)

O filme genérico de super-herói de sempre, com um toque de pimenta

O problema de insistir em uma aposta excessiva, sem nenhum investimento a longo prazo, é que se cria uma bolha que pode estourar a qualquer momento. É nesse cenário que se encontram as aventuras de super-heróis no cinema. Um problema ainda maior para o universo DC, que nunca conseguiu fincar bem seus pés. Mas não estamos aqui para analisar o mercado, e sim, os filmes que saem nele. O problema é que essas obras podem ser prejudicadas pelo contexto em que são lançadas. Como é o caso dessa aventura genérica e latina.

Pôster de Besouro Azul
© 2023 Warner Bros. Ent. TM & © DC

Jaime Reyes (Xolo Maridueña) é um jovem recém-formado cujo diploma não se mostra o suficiente para realizar seu sonho de ajudar a família, resultado das dívidas estudantis e de viver em um bairro visado pelas grandes corporações, como as Indústrias Kord. E é dessa corporação que sairá o Escaravelho, um artefato alienígena que mudará a vida de Jayme, tornando ele no Besouro Azul.

O projeto do Besouro Azul foi idealizado em um período em que a DC estava tentando diversificar o seu universo de super-heróis no cinema, indo além de Batman e Superman. O problema é que estamos falando de uma empresa que nunca conseguiu construir um universo coeso, capaz de convidar o público a conhecer até mesmo as mais distantes vielas do seu mundo. Cenário esse que condenou o atual filme ao fracasso antes mesmo de sair, mesmo sendo uma das mais divertidas aventuras de quadrinhos recentes.

Falar de Besouro Azul, e seu desempenho, sem se aprofundar em questões de mercado é difícil, pois trata-se de uma realidade comercial que afeta sua construção. Sim, um filme precisa se sustentar por si só, mas existe também o retrato de sua época e essa obra em específico parece a todo mundo que saiu no tempo errado, talvez alcançando um público maior se tivesse sido lançada anos atrás. Situação que fala também do estado da representatividade no meio blockbuster.

O fracasso das produções recentes de super-herói está sendo erroneamente – e de forma proposital por vozes que buscam desesperadamente por relevância na internet – associado à chegada de personagens de diferentes gêneros, culturas e raças. O real problema a ser analisado dentro desse contexto é a demora para que tais minorias fossem tratadas como estrelas, conquistando um holofote apenas quando o palco já não recebe a mesma atenção. E assim recebem a culpa por uma falta de planejamento e visão, colocando em suas origens uma cobrança que heróis que vieram antes não receberam.

Besouro Azul tem entre os seus destaques o retrato da cultura latina, mas até essa riqueza não é tão bem explorada assim, ficando presa a um recorte estereotipado que diverte, mas também incomoda. A proximidade da família latina e seu eterno posicionamento como uma sitcom. O que ajuda é o bom desempenho do elenco em si, servindo de apoio não apenas ao herói, como também ao filme em si.

Falando do protagonista, Xolo, estrela da série Cobra Kai (2018-) tem um rosto de galã de novela mexicana que casa bem com o personagem, o que inclui um certo despreparo que, à sua maneira, acaba tornando o jovem em alguém mais real. A química com a brasileira Bruna Marquezine, na tela como Jenny Kord, filha do Besouro Azul original, é outro acerto. Ainda mais em um período onde os blockbusters parecem excluir qualquer vestígio de romance ou relação entre personagens além do que o texto exige. Um filme mais próximo, nesse sentido, aos Homem-Aranha de Sam Raimi. Já em estrutura a semelhança fica com Homem-Formiga (2015), com direito a legados super-heroicos e vilões genéricos de armadura.

E assim fica claro um dos problemas de Besouro Azul, já que é um filme que lembra demais tudo o que veio antes, tendo o seu perfil latino como único diferencial a oferecer. Apesar disso, a produção ainda se destaca diante da safra recente de filmes de super-herói, com um visual interessante, que permite abraçar até mesmo um horror visual quando se trata da transformação do herói, ou com suas empolgantes cenas de ação, gênero que Ángel Manuel Soto promete despontar, deixando a sensação que faria mais se recebesse o mesmo investimento de obras inflacionados como The Flash ou As Marvels.

E é justamente essa sensação de promessa que pode salvar o destino de Jaime no novo universo DC que está sendo modelado por James Gunn (Guardiões da Galáxia, O Esquadrão Suicida). O que se espera também é que o tópico diversidade não seja mais abordado de maneira desleixada, colocando rostos diversificados nas mesmas histórias esquecíveis de sempre e exigindo um resultado diferente.

Direção: Ángel Manuel Soto
Roteiro: Gareth Dunnet-Alcocer
Elenco: Xolo Maridueña, Adriana Barraza, Damián Alcázar, Raoul Max Trujillo, Susan Sarandon e George Lopez
Trilha Sonora: Bobby Krlic
Fotografia: Pawel Pogorzelski
Montagem: Craig Alpert
Produzido por: John Rickard e Zev Foreman
Título original: Blue Beetle

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