Planeta dos Macacos: O Reinado (2024)

Quem é digno de entrar no reino de César?

A criação de um mito pode até ter início nos feitos de um indivíduo, mas tal idealização só ocorre quando contos vão sendo narrados e reformulados em cima do ocorrido. Em casos mais específicos, a história se torna lenda e o mito ganha tons de endeusamento, criando-se religiões ao redor dessa imagem. Com o passar das gerações, é justamente o que ocorre com aquele que se sacrificou para garantir a sobrevivência de sua espécie na Terra. No caso, estamos falando do macaco César.

Pôster de Planeta dos Macacos: O Reinado
© 2024 20th Century Studios

Séculos após os eventos da trilogia anterior, Planeta dos Macacos: O Reinado acompanha uma nova geração de símios, com destaque para o jovem Noa (Owen Teague), um macaco que vive de forma pacata em sua tribo. Sua realidade muda quando ele entra em contato com o que parece ser um dos últimos humanos inteligentes, levando-os a uma jornada de sobrevivência contra um primata que se autodenomina o próximo líder dos macacos, Proximus César (Kevin Durand).

Se nos últimos filmes da série víamos vestígios daquilo que viria a se tornar o planeta dos macacos, O Reinado coloca a franquia em um estágio muito próximo da obra original, em um mundo dominado pelos símios, com os poucos seres humanos tornando-se escravos. Contudo, o que encontramos aqui é um estado que antecede a mudança, com os macacos formando comunidades e reinos, com o que resta da humanidade lutando para tentar se reerguer mais uma vez.

Estamos falando de um interessante capítulo para a saga, pois, ao mesmo tempo que se trata de um novo recomeço, com novos personagens, cenários e um novo diretor encabeçando o projeto, ainda se trata de um projeto diretamente ligado aos filmes dirigidos por Matt Reeves (O Confronto e A Guerra), tendo um tom bastante similar em seu início.

O Reinado faz um recorte sobre o início de uma civilização, no entanto, sua discussão mais forte vem do nascimento de uma crença religiosa, mostrando como atos e palavras se distorcem para criar uma narrativa baseada em divindades, tanto para fins dominantes, como para intenções benévolas. É nessa posição que fica o macaco César, com suas ações sendo encaradas com admiração, como acontece com Raka (Peter Macon), símio que busca repetir seus atos na trilogia anterior como um dogma religioso, ou como um símbolo de poder e julgamento, tal como faz Proximus, macaco que usa dessa imagem para estabelecer seu poder. É o 1º e o 2º testamento da bíblia católica brigando entre si.

O ponto é que toda essa profundidade religiosa vai sendo abandonada com o passar do filme, com o novo capítulo passando a adotar um tom mais aventuresco, distanciando-se assim da profundidade buscada pelos filmes anteriores. Isso, contudo, não chega a ser um problema, pois permite a nova fase da franquia andar com suas próprias mãos — estamos falando de macacos, não se esqueça — com sequências de ação que destacam o bom desempenho do novo nome a comandar a série.

Wes Ball fez um trabalho interessante com a trilogia Maze Runner, criando um mini-espetáculo de ação em cima de uma série de livros infanto-juvenil. De certa forma, essa sua visão também predomina no novo Planeta dos Macacos, sendo uma aventura carregada por jovens desse novo mundo, sendo um filme que se enriquece com o encantamento dos seus personagens, todos a descobrirem uma realidade a qual não tinham acesso antes.

Óbvio que existe uma comparação difícil de não ser feita com os filmes recentes, ainda mais com os dois últimos, colocando o novo capítulo em um julgamento maior graças ao sucesso do que veio antes. É o que acontece com a trilha do novo capítulo, bastante eficiente para as sequências de ação, mas que não guarda o mesmo impacto do trabalho feito por Michael Giacchino, por exemplo.

Não necessariamente isso torna o novo Planeta dos Macacos em algo ruim, pelo contrário, trata-se de um filme que entende o seu legado, mas que a todo momento está tentando construir sua própria jornada. Algo que vale tanto para o diretor como ao novo protagonista, tratando-se de um jovem que busca alcançar a mesma admiração recebida pelo pai.

Com um bom protagonista a se acompanhar nos prováveis próximos capítulos, existe outro ponto interessante construído em relação ao lado humano, mostrando uma dualidade entre espécies. Mae (Freya Allan) é um símbolo da resistência humana nesse universo, com traços violentos e vingativos que não estão associados diretamente ao comportamento bestial adotado pelos seres humanos, adquirido frente ao contato com o vírus que deu origem ao planeta dos macacos em formação.

Mesmo sendo um claro capítulo de reintrodução à série, Planeta dos Macacos: O Reinado é um filme que se preocupa em contar uma história autossuficiente, sabendo sua posição em relação ao passado e ao futuro que a franquia pretende alcançar. Um potencial maior que não é alcançado ainda, mas com um preparo digno a saltos maiores, frente a uma devoção que encaminha seus passos, mas que não necessariamente dita o seu destino. Quase um sermão para fazer jus ao tom inicialmente religioso.

Direção: Wes Ball
Roteiro: Josh Friedman
Elenco: Owen Teague, Freya Allan, Kevin Durand, Peter Macon e William H. Macy
Trilha Sonora: John Paesano
Fotografia: Gyula Pados
Montagem: Dan Zimmerman
Produzido por: Wes Ball, Joe Hartwick Jr., Rick Jaffa, Amanda Silver e Jason T. Reed
Título original: Kingdom of the Planet of the Apes

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