As Five – Segunda Temporada (2023)

Jovens deixam o desenvolvimento de lado para focar em relacionamentos. Quem nunca?

Em As Five podemos acompanhar uma nova fase da relação de amizade formada entre as cinco amigas de Malhação: Viva a Diferença (2017-18). Sai o período da adolescência e entram as complicações de ser um jovem-adulto, quando as responsabilidades se acumulam, mas não necessariamente estamos pronto para lidar com isso. Algo interessante nesse ponto da série, mas que vai sendo deixado de lado, dando espaço apenas para subtramas amorosas.

© 2023 Globo

Após se reencontrarem, As Five buscam manter uma proximidade entre si, enquanto lidam com novos desafios. Nisso temos Keyla (Gabriela Medvedovski) e Tina (Ana Hikari) tentando abrir um negócio juntas, Benê (Daphne Bozaski) ganhando o apoio de todas enquanto tenta dar continuidade ao seu relacionamento com Nem (Thalles Cabral), enquanto Ellen (Heslaine Vieira) e Lica (Manoela Aliperti) entram em atrito ao se aproximarem da mesma mulher. Uma grande teia de namoros que lembra os tempos de adolescência. Com atitudes que se mostram tão inconsequentes como tal fase.

Se um dos problemas da primeira temporada foi o afastamento total do material de origem, inclusive no que se diz respeito às decisões de vida das personagens e suas figuras próximas, o segundo ano de As Five acaba por lembrar até demais uma novela juvenil. Não é como se a vida adulta trouxesse um amadurecimento amoroso, pois o que não faltam são séries sobre adultos péssimos em seus relacionamentos, com foco no gênero feminino, como Sex and the City (1998-2004) e Girls (2012-17). O ponto aqui é como isso acaba se tornando o centro da temporada, negligenciando até mesmo histórias anteriores, tanto da novela como do seriado.

O jovem adulto de hoje encontra um mercado de trabalho em colapso, na medida em que novas áreas profissionais vão surgindo. Se antes a série abordava esse contraste, agora todas passam magicamente a lidar com carreiras inteiramente dedicadas à arte e comunicação, alimentando-se de sonhos sem que a realidade bata na porta. E nesse mundo de “trabalhos de mentira” acabam sendo os coadjuvantes o elemento mais realista em relação à vida das garotas, assim como na série de modo geral.

Nesse grupo destaca-se Maura (Tamirys Ohanna), personagem que entra como centro de uma disputa amorosa, mas aos poucos se revela como alguém mais interessante do que as próprias protagonistas. Não apenas por ser alguém mais madura, mas também por trazer uma realidade que parece faltar nessa temporada, até mesmo em questões de relacionamentos.

A centrada Ellen, por exemplo, passa a identificar sua bissexualidade, contudo, o show está longe de trabalhar isso. Tal sentimento parece existir somente para servir de estopim de uma tensão com Lica, já que ambas acabam se aproximando da mesma pessoa. Uma dose de infantilidade que não era vista nem mesmo nos tempos de Malhação, já que essas personagens saíram de uma das temporadas mais maduras e, ao mesmo tempo, joviais da novela. Diferente dessa bobeira adolescente que se torna a segunda temporada de As Five.

Essa bagunça amorosa até rende um episódio divertido, Verdade ou consequência? (3×5), quando o grupo viaja para um final de semana na praia, mas também não chega a ser atrativo o suficiente, já que até mesmo quando o romance tratava-se apenas de um pano de fundo secundário, como na temporada anterior, haviam histórias mais interessantes. No lugar, o que vemos são temas complexos sendo jogados para os episódios finais.

Dentro desse balaio temos a dependência do jovem com a internet, como acontece com Tina, e a complexidade de identidades existentes, como Samuel (Jessé Scarpellini), o playboy que tenta se desconstruir para agradar Keyla, e Glauber (Elzio Vieira), alguém que tem sua religião o tempo inteiro julgada por Tina. E assim voltamos à principal crítica a temporada, que não está exatamente em cima da questão amorosa, mas de como tudo isso é mal abordado, deixando os coadjuvantes brilharem mais que as protagonistas.

Exigir do jovem adulto decisões centradas seria trair a verossimilhança da obra, e de fato, esse é o centro da série. O estranho é ver como As Five muda tanto de rumo, abandonando a complexidade desses adultos em formação em tempo real, para focar em picuinhas adolescentes que sequer combinam com o perfil das protagonistas, desprezando coisas muito mais interessantes, como o embate de Ellen com uma tecnologia racista. É aquilo, as pessoas perdem a cabeça quando estão amando, mas espero isso das personagens, não dos realizadores.

Criado por: Cao Hamburger
Roteiros: Cao Hamburger, Maiara de Paula, Luna Grimberg, Thays Berbe e Maíra Motta
Direção: Fabrício Mamberti, Dainara Toffoli e Joana Antonaccio
Elenco: Ana Hikari, Gabriela Medvedovski, Daphne Bozaski, Manoela Aliperti, Heslaine Vieira, Thalles Cabral, Marcos Oliveira, Jessé Scarpellini, Tamirys Ohanna e Elzio Vieira
Fotografia: Julia Equi e Marcelo Corpanni
Produtores Executivos: Marina Puech Leão e Pablo Torrecillas
Rede de exibição original: Globoplay
Nº de episódios: 8
Título Americano: We Are Five

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