Chucky – Terceira Temporada (2023-24)

Chucky chega à Casa Branca, mas seu mandato encontra concorrência quando se trata de homicídios em massa

Durante toda a franquia, o que inclui os filmes e o seriado, Chucky passou pelos mais diferentes tipos de cenários que uma série de terror pode passar. Casas, hospitais psiquiátricos, internatos, até mesmo uma escola militar. Agora o boneco está onde nenhum brinquedo chegou antes, na Casa Branca. E como isso é chato.

Poster de Chucky – Terceira Temporada
© 2024 Universal Content Productions LLC

Após acreditarem finalmente terem se livrado de Chucky, os adolescentes Jake (Zackary Arthur), Devon (Björgvin Arnarson) e Lexy (Alyvia Alyn Lind) tiveram seu Natal arruinado com o retorno do boneco, naquele que parece ser o seu último corpo, sequestrando a jovem Caroline (Carina London Battrick).Meses sem sinal deles, o trio descobre a atual moradia do serial killer, sendo nada menos do que na capital dos EUA.

Um dos motivos da temporada anterior ser umas das melhores partes de toda a jornada de Chucky no audiovisual foi o seu abraço ao exagero. O terceiro ano do show até tenta manter esse ritmo, levando o brinquedo assassino para um palco político, contudo, a piada não segura muito tempo. Essa separação de espaço entre o trio de jovens e o seu pequeno algoz faz com que a série tenha que dar destaque aos personagens que vivem na Casa Branca, sendo cada um menos interessante que o outro.

O foco da vez é uma sátira política, com Chucky não ficando páreo para os horrores causados pelos líderes do estado americano. Uma piada que talvez funcionasse para um filme, mas que nesse formato seriado se torna frágil demais, com o show tendo que apelar para a violência para preencher os episódios. E sim, a sanguinolência é super bem-vinda nesse show, com essa temporada tendo mortes mais brutais nesse sentido, no entanto, nem isso engata. Se até o boneco anda desmotivado, o que dizer então do público?

Fora essa trama política cansativa, a terceira temporada de Chucky ainda conta com uma estranha construção. E nem é sobre sua divisão em duas partes — resultado das greves de atores e roteiristas que atingiram Hollywood ano passado — mas sobre a própria estrutura dos episódios, que começam como um simples slasher, deixando o público em branco sobre as motivações do assassino, em busca de agradar à entidade conhecida como Damballa, que o abandonou após seu flerte com a religião católica (fazer parte de um exorcismo no caso).

É esse absurdo que faz falta a temporada, cuja diversão está em elementos como um Chucky decrépito ou sua visita ao médico em Garota Infernal (1×3), melhor episódio por não só esclarecer a história sendo contada, mas por simplesmente se divertir, algo que é possível muito graças ao carisma de Jennifer Tilly como Tiffany. Grande destaque da temporada anterior que aqui luta para fugir do corredor da morte. Uma participação dividida em pequenas doses.

Falando de participações, o terceiro ano de Chucky conta com Nia Vardalos, que recebe a morte mais saborosamente maléfica da temporada, e o diretor John Waters, que retorna a franquia, agora como o criador do boneco Cara Legal. E sobre retornar em outros papéis, a temporada repete a prática, com a diferença que dessa vez temos Devon Sawa no papel mais dramaticamente insuportável, como o presidente americano.

Não é como se Chucky tivesse tido um bom elenco em algum momento, mas ao colocar esses atores em histórias mais puxadas para o drama, tais fraquezas ficam ainda mais expostas, como se a série tivesse esquecido sobre como brincar com suas ferramentas. Subtramas como o casal Jake e Devon em busca de perder a virgindade poderiam ser melhor exploradas, por apontarem para um humor exagerado que parece fora dos trilhos nesta temporada.

Como diferencial, no entanto, não podemos esquecer da presença de Brad Dourif não apenas como a voz do boneco, mas também na forma física e, nesse caso, espiritual, do assassino Charles Lee Ray. O encontro das diferentes versões de Chucky na Casa Branca — um cenário digno para o inferno — é outro destaque, servindo também como uma revisão nostálgica de todos os eventos da série até aqui, apontando talvez para o que seria um desfecho decente para o show.

Apostar no cenário político americano, visando a proximidade do período de eleições por lá, parecia uma ideia interessante, mas falta à terceira temporada de Chucky explorar isso de forma mais satírica. No fim, parece existir um respeito patriota que impede o show de fazer piadas mais elaboradas, faltando a ousadia e perversidade que a série tinha com seus personagens. A verdade é que ao retratar o envelhecimento do boneco, o show acabou trazendo junto sua disfunção assassina.

Criado por: Don Mancini
Roteiros: Nick Zigler, Don Mancini, Catherine Schetina, Amanda Blanchard, Alex Delyle, Rachael Paradis, Diana Pawell, Isabella Gutierrez e Josh E. Jacobs
Direção: Jeff Renfroe, John Hyams, Samir Rehem e Amanda Row
Elenco: Zackary Arthur, Björgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Brad Dourif e Devon Sawa
Trilha Sonora: Joseph LoDuca
Fotografia: Christopher Soos
Produtores Executivos: Jeff Renfroe, Alex Hedlund, Nick Antosca, David Kirschner e Don Mancini
Rede de exibição original: Syfy / USA Network
Nº de episódios: 8

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