As Five – Terceira Temporada (2024)

As Five crescem, amadurecem — dentro do possível — e se despedem

As Five permitiu ao público nacional ter acesso a algo mais comum às produções televisivas americanas, que é acompanhar o envelhecimento dos personagens, ao invés de visitar apenas um período fechado, como ocorre com as novelas, filmes ou até mesmo seriados nacionais, cuja longevidade é rara, sendo possível destacar poucos títulos, como A Grande Família (2001-2014). Em seu ano final vemos as garotas se encontrando em relação aos seus dilemas pessoais, mesmo que para isso tenham que se perder mais um pouco antes.

Poster de As Five - Terceira Temporada
© 2023 Globo

Depois de um período conturbado, cada uma das garotas parece estar focada em um objetivo, como Keyla e a gestão do seu negócio, Benê à procura de juntar dinheiro para comprar um piano novo ou Ellen em sua jornada para entender como funciona o amor. Enquanto isso, outras figuras do grupo passam por problemas, como Tina e o seu vício ou Lica que simplesmente resolve amadurecer, só não sabe como fazer isso. Cada uma com seu desafio, mas todas dispostas a se ajudarem. Em tese.

A temporada final de As Five pode ser definida como um ano de amadurecimento, com as cinco personagens deixando a adolescência não apenas de forma física, mas também mentalmente. Isso não significa que elas irão simplesmente mudar uma chavinha e se tornarem outra pessoa, com o acerto da série estando na maneira em que acompanha esse processo. Uma mudança que ocorre de modo nada regular, com toda a montanha-russa emocional de um jovem, só que com o acréscimo de novas responsabilidades.

É interessante como, ao mesmo tempo em que se trata da temporada mais séria do show, principalmente pelos temas abordados, existe uma leveza que lembra não apenas o ano inicial de As Five, como também a própria fase de Malhação da qual essas personagens saíram. E além das cinco protagonistas, podemos acompanhar também a fase final de outras figuras que foram surgindo pela série.

Com as Five tendo cada vez mais tramas próprias, cada uma passa a contar com seu próprio grupo de coadjuvantes, seguindo um processo natural de envelhecimento, no qual mesmo que ainda exista um grupo de amigos, novos círculos sociais vão sendo formados. Uma temporada que aos poucos vai solidificando todo o processo de crescimento do jovem adulto, sendo esse o principal foco da série, abordando um período tão confuso quanto a adolescência, mas que não recebe o mesmo tipo de atenção.

Ainda existe outro ponto que é o olhar para a Geração Z, grupo que nasceu com a internet ao seu lado e que agora encara o processo de chegar à vida adulta, encontrando um mundo com expectativas cada vez menores. Um choque diante todo o discurso motivacional que os jovens escutam toda a sua vida. É como se todo esse apoio desaparecesse e todo o seu futuro possível desaparecesse em frente dos seus olhos.

Não é como se essa sensação fosse exclusiva da geração atual, mas existe sim uma sociedade com menos oportunidades, o que resulta no aumento de pessoas depressivas e com vícios, restando, para quem tem a sorte de possuir, o apoio de suas amizades. E é assim que o ano final de As Five consegue representar tão bem os dilemas da geração atual, com a temporada tendo episódios que analisam justamente pontos comuns na vida desses novos adultos.

Mesmo com seus altos e baixos, As Five foi uma série de sucesso dentro de sua proposta, com muito desse acerto estando atrelado ao texto do show, que sim, teve seus momentos mais irregulares, mas até isso foi ofuscado pelo talento de suas protagonistas. Nessa última temporada é impossível não destacar a presença de Ana Hikari e o arco autodestrutivo de Tina; a complexidade que Daphne Bozaski trouxe à Benê; além da presença de Gabriela Medvedovski como Keyla, personagem que sempre teve um pé maior no protagonismo.

Para Heslaine Vieira temos a chance de ver uma atuação mais leve nesse último ano, quase que em uma comédia romântica, enquanto Manoela Aliperti vive a eterna rebeldia de Lica, que agora parece lutar contra si para poder crescer, fazendo uma excelente dupla com a atriz Malu Galli, que volta a participar no papel de sua mãe.

Falando de Lica, uma atitude egoísta é a responsável por culminar no término do arco da série, fazendo jus à personagem, pois seria irreal para o show se despedir do grupo em fases completas e centradas de suas vidas. É essa sensação de encaminhamento, sem necessariamente alcançar os objetivos traçados, que traz um conforto para o final. E assim As Five chegam em uma nova etapa de vida, menos próximas, mas ainda unidas. Um reflexo sobre o que é crescer no mundo de hoje.

Criado por: Cao Hamburger
Roteiros: Cao Hamburger, Maiara de Paula, Luna Grimberg e Maíra Motta
Direção: Rafael Miranda, Dainara Toffoli, Fabrício Mamberti E Dainara Toffoli
Elenco: Ana Hikari, Gabriela Medvedovski, Daphne Bozaski, Manoela Aliperti, Heslaine Vieira, Thalles Cabral, Marcos Oliveira, Matheus Campos, Juan Paiva, Jessé Scarpellini, Tamirys Ohanna, Elzio Vieira e Samuel de Assis
Fotografia: Julia Equi e Marcelo Corpanni
Produtores Executivos: Marina Puech Leão e Pablo Torrecillas
Rede de exibição original: Globoplay
Nº de episódios: 8
Título Americano: We Are Five

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