A Casa do Dragão (2022)

Spin-off de Game of Thrones é um novelão com intrigas familiares, romance, briga por terreno e dragões

Game of Thrones é um marco no gênero fantasia, pois mesmo com o sucesso reconhecido no cinema de obras como O Senhor dos Anéis, a adaptação dos livros de George R. R. Martin conseguiu levar o estilo fantástico para um público adulto, na televisão. Mesmo com toda a complexidade, muito do sucesso do show vem dos seus momentos catárticos, tal como um bom programa de TV. Uma novela, considerando um produto nacional. Com o propósito de repetir o sucesso da série original, o primeiro dos diversos spin-offs anunciados aposta justamente nesse apelo ao exagero. Os dragões ajudam, é claro.

Pôster de A Casa do Dragão
© 2022 Home Box Office, Inc.

200 anos antes dos eventos de A Guerra dos Tronos, A Casa do Dragão acompanha o reinado da família Targaryen gerações após a conquista dos sete reinos. De modo a evitar brigas pela sucessão ao trono, Viserys (Paddy Considine) é nomeado rei, mantendo desde sua coroação um reino em harmonia. Contudo, uma disputa vai sendo travada em torno da legitimidade de sua filha Rhaenyra como real sucessora. Uma briga que passa a envolver os mais variados membros da família Targaryen.

Mesmo com suas familiaridades com a série original, A Casa do Dragão possui um estilo próprio, sendo um show mais ágil, enérgico, buscando emular o ritmo das temporadas finais de Game of Thrones. O ponto é que tal seriado demorou para alcançar esse nível, tendo antes somente um evento catártico por temporada, enquanto o novo show busca criar um em quase todo episódio. Com isso, é fácil destacar o ponto mais fraco do spin-off, sendo sua pressa em contar tanta coisa em apenas uma temporada.

O que ajuda a produção são os bons personagens e intérpretes que possui, isso nas duas fases do show. Esse ritmo de voar nas asas de um dragão faz com que o ano inicial de A Casa do Dragão aborde, na verdade, duas temporadas, com a primeira parte, focada na apresentação das peças do tabuleiro, sendo a mais interessante. Muito disso graças à complexidade de seus protagonistas, como o rei Viserys. Um monarca que busca ser justo tanto com o reino como com sua família, sem se dar conta que são suas ações em tese benéficas, apáticas na verdade, que dão início a uma briga violenta ao redor do trono, após a sua partida. Uma despedida da qual é possível nutrir sentimentos pelo falecido rei, tudo graças à atuação cativante de Paddy Considine.

A segunda fase da série, a partir de A Princesa e a Rainha (1×6), é quando o teor novelístico toma conta de A Casa do Dragão, o que não necessariamente é uma crítica. O apontamento negativo, na verdade, fica para as saídas simples demais para justificar tais momentos de euforia, seja fugindo da personalidade de figuras como Sir Cole (Fabien Frankel), seja ignorando as consequências políticas das ações tomadas, o que inclui assassinatos a sangue-frio frente à corte.

Como adaptação, o spin-off tem a liberdade de criar histórias em cima de elementos brevemente citados, justificando suas decisões até mesmo como uma romantização natural dos eventos ocorridos. Uma saída, porém, utilizada vezes demais por parte dos realizadores, diante de um claro objetivo de centralizar a série o mais rápido possível na briga entre Alicent (Olivia Cooke) e Rhaenyra (Emma D’Arcy). Briga que parte muitas vezes de desencontros e desentendimentos, como uma boa novela.

E assim nasce uma disputa balanceada entre elas, sendo um conflito que funciona muito graças ao desempenho de suas intérpretes. Algo ainda mais forte na primeira fase, com as jovens Emily Carey e Milly Alcock destacando-se em uma relação que vai de um possível amor ao ódio. Outros nomes a se destacar são Rhys Ifans (Otto Hightower), Matt Smith (Daemon) e Eve Best (Rhaenys), mesmo sendo personagens cujas personalidades parecem replicar o comportamento de figuras específicas de Game of Thrones.

Ao mesmo tempo, não é como se o objetivo de A Casa do Dragão fosse criar algo distante de sua série de origem, pelo contrário, seu sucesso está em como o show consegue empolgar o espectador sem parecer uma prequel caça-níquel (desafio a ser travado por todos os milhares de spin-offs anunciados de A Guerra dos Tronos). Nessa de manter similaridades, temos novamente a trilha de Ramin Djawadi, que peca por apenas repetir o tema de abertura, sem nenhuma nuance nova. Talvez mais exigência da HBO do que uma falta de imaginação do compositor, vide seu trabalho eficiente por toda a série.

O mesmo não pode ser dito pela produção como um todo, pois para exibir os pomposos dragões de forma frequente, a série tem que economizar a todo momento, com sua fotografia digitalmente escura e suas perucas pavorosas. Sem dúvida a real herança dos Targaryen. Agora, quando se fala sobre a expectativa de esperar domingo à noite para assistir uma briga por poder na TV, dessa vez com mais poder de fogo, pode-se dizer que sim, A Casa do Dragão honra o legado do maior fenômeno da HBO e da fantasia moderna.

Criado por: Ryan Condal e George R. R. Martin
Roteiros: Ryan Condal, Gabe Fonseca, Ira Parker, Charmaine DeGraté, Sara Hess, Kevin Lau e Eileen Shim
Direção: Miguel Sapochnik, Greg Yaitanes, Clare Kilner e Geeta Vasant Patel
Elenco: Paddy Considine, Matt Smith, Emma D'Arcy, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Eve Best, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Milly Alcock, Emily Carey, Graham McTavish, Matthew Needham, Jefferson Hall, Olivia Cooke, Harry Collett, Tom Glynn-Carney, Ewan Mitchell, Bethany Antonia, Phoebe Campbell e Phia Saban
Trilha Sonora: Ramin Djawadi
Fotografia: Alejandro Martínez, Catherine Goldschmidt, Pepe Avila del Pino e Fabian Wagner
Produtores Executivos: Miguel Sapochnik, Ryan Condal, George R. R. Martin, Ron Schmidt, Jocelyn Diaz, Sara Hess e Vince Gerardis
Rede de exibição original: HBO
Nº de episódios: 10
Título Original: House of the Dragon

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