X-Men ’97 (2024)

“Mutação. É a chave para nossa evolução” dizem os executivos sobre o futuro da Marvel

Muitos são os grupos de heróis, mas nenhum possui o mesmo peso dos X-Men. Não à toa os mutantes sempre se mantiveram populares, mesmo com uma série irregular de filmes e até mesmo boicotes nos quadrinhos (Marvel para de tentar fazer Os Inumanos acontecerem). Muito desse sucesso está atrelado ao apego criado com os personagens graças às suas séries animadas, com destaque para a dos anos 90. E é justamente essa série que está sendo revisitada, surpreendendo por ser algo muito além de um mero golpe de nostalgia.

Pôster de X-Men '97
© 2024 Marvel

Continuação da última temporada da animação original, X-Men ’97 mostra o grupo seguindo suas vidas após a morte do Professor X. Esse período de paz, que conta até mesmo com um bebê chegando à mansão, é abalado com a leitura do testamento de Xavier, deixando os X-Men e seu lar nas mãos do seu mais antigo oponente, Magneto. Contudo, essa é apenas uma entre reviravoltas diversas na vida dos mutantes, o que conta com clones, viajantes do tempo, sentinelas humanos e uma morte na equipe.

A maior surpresa de X-Men ’97 é o tom adulto que a animação recebe, servindo como um amadurecimento para a série original, fugindo do apelo mais infantil. Por outro lado, segue presente o tom de desenho de sábado de manhã, mas agora focado em crianças maiores. A maior inspiração, porém, vem dos próprios quadrinhos, trazendo a sensação de ler uma aventura mensal dos mutantes, um espírito que a própria Marvel dos cinemas parece estar um pouco desconexa no momento.

E quando falamos sobre trazer o espírito dos quadrinhos para a tela, não podemos esquecer dos conflitos de relacionamentos dignos de uma grande novela, como os triângulos amorosos envolvendo Gambit, Vampira e Magneto, fora o já tradicional Scott, Jean e Logan. O segundo trio ganha até um elemento extra com a chegada de Madelyne Pryor, clone de Jean que adapta um dos arcos mais absurdos da extensa teia amorosa que envolve o grupo mutante.

Por mais que a nova animação dos X-Men tenha um estilo diferente da série original, um erro persiste que é a pressa em adaptar grandes arcos. Até o show focar em uma trama específica, em seus últimos episódios, a temporada adapta histórias variadas da maneira mais rápida o possível, o que inclui a perda de poderes de Tempestade e o próprio conflito de Jean em relação aos seus meses de vida roubados por sua usurpadora. Lembrando que na animação dos anos 90 temos histórias como a cura, Dias de um Futuro Esquecido e a introdução do vilão Apocalipse, tudo direto em sua primeira temporada.

Sendo uma série cuja existência está atrelada à nostalgia, é surpreendente como a animação foge dessa armadilha, com a grande exceção ficando para o personagem Morfo, com sua única função no show sendo o de encarnar diferentes personagens que passaram pela série. Não deixa de ser, porém, uma figura com camadas a serem exploradas, diante o assumir do ser mutante como uma pessoa não-binária, além de sua clara paixão por Wolverine. Mais uma trama amorosa para botar na conta.

Se existe uma crise no show é a estética. Sem o investimento necessário para uma real animação em 2D, X-Men ’97 faz um trabalho de emulação que lembra aquele feito em Tico e Teco: Defensores da Lei (2022). O design até funciona nas cenas de ação, ficando próximo a um jogo de plataforma dos anos 90, o problema está nas sequências comuns, nas quais a série fica parecendo um vídeo de paródia no Youtube, prejudicando cenas que dão espaço para esse apelo mais maduro da nova série.

Para os X-Men em si, a animação acerta ao dar destaque para o restante dos mutantes dos quadrinhos, colocando Wolverine em sua posição de origem, como um ótimo coadjuvante, tal como era antes do carcaju estourar nos cinemas, dando espaço assim para outros personagens brilharem. E assim temos tempo para o líder Ciclope, a rebelde Vampira, além de explorar no audiovisual todo o nível de poder de figuras como Jean e Tempestade, aproveitando-se do viés animado para dar vida ao exagero dos quadrinhos.

O sucesso de X-Men ’97 apresenta um futuro promissor para uma Marvel Studios em crise, sendo possível tirar algumas lições, como tratar animações com um respeito maior e entender que histórias fechadas em seus personagens são mais interessantes do que acompanhar sagas que se amontoam sem fim. Problema direto da própria Marvel nos quadrinhos. Por outro lado, foi criado um grande obstáculo, pois é difícil pensar em uma adaptação live-action que consiga chegar perto de algo tão divertido e, ao mesmo tempo, doloroso, como os eventos de Lembre-se Disso (1×5). De qualquer forma, uma coisa é certa, o futuro pertence aos mutantes, então parem de tentar excluí-los.

Criado por: Beau DeMayo
Roteiros: Beau DeMayo, Charley Feldman, JB Ballard e Anthony Sellitti
Direção: Jake Castorena, Chase Conley e Emi Yonemura
Elenco: Ray Chase, Jennifer Hale, Alison Sealy-Smith, Cal Dodd, J. P. Karliak, Lenore Zann, George Buza, A. J. LoCascio, Holly Chou, Isaac Robinson-Smith, Matthew Waterson, Ross Marquand e Adrian Hough
Trilha Sonora: The Newton Brothers
Produtores Executivos: Brad Winderbaum, Kevin Feige, Louis D'Esposito, Victoria Alonso e Beau DeMayo
Rede de exibição original: Disney+
Nº de episódios: 10

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